Podcast Post 037: Entrevista com Maestro Billy, Podcast, ABPOP e o ECAD

Olá meus amigos, hoje o Podcast Post traz uma pessoa muito especial para quem faz Podcast e mesmo que você não conheça seu trabalho, se já ouviu Radio, assistiu TV aos Sábados ou mesmo ouviu Podcast, já teve contato com ele: Billy Umbella mais conhecido como Maestro Billy:



Entrevista com Maestro Billy


Nerdópole:  Qual sua relação com o Rádio e a TV e qual sua relação com o início do podcasts no Brasil?


Maestro Billy: Sou formado em Publicidade e Propaganda, mas sempre trabalhei em Radio e TV. Meu primeiro estágio foi como atendente de telefone na Band FM, isso nos idos dos anos 1990… hahahaha.Depois fui pulando de uma rádio para outra: Band FM, Metropolitana, Rádio Cidade, Transamerica e Jovem Pan. Nestas duas últimas fiz alguns projetos que estão no ar até hoje. Na primeira, fizemos a primeira transmissão de jogos de futebol por uma radio FM no Brasil, durante a Copa de 1994.


Na segunda fui um dos fundadores do Pânico, criamos as 7 melhores (que na época se chamava Arrastão), o Ritmo da Noite (que hoje em dia são os programas de DJ fixados) e outras coisas mais.


Fiz parte da produção da segunda temporada dos programas do Djalma Jorge e criamos um padrão estético para a rádio que até hoje é referencia no FM brasileiro.


O inicio do podcast foi para mim uma forma de ter minha própria “radio”. Como sempre fui produtor, chegou, com o podcast, o momento de tomar conta de todos os processos. Vinhetas, locução, curadoria musical e tudo mais que uma rádio precisa para estar no ar. E em programas curtos, sem a necessidade de se ter uma radio 24hs no ar.


NP: Você se vê fazendo um desses Podcasts mais populares, de cultura Nerd, cinema e TV?


MB: Acredito que sim. O formato permite que façamos qualquer tipo de programa para qualquer tipo de assunto. Então posso fazer um comentando sobre lançamentos de álbuns, sobre cervejas, ou outro assunto qualquer. O que é extremamente importante no caso do podcast é a periodicidade. Se começou mensal, faça mensal. E assim por diante.Entrevista com Maestro Billy


NP: Nos fale sobre seus podcasts como por exemplo o ADD, quais as diferenças e quais as semelhanças para os podcasts mais comuns?


MB: O ADD era minha “radio particular”, e também uma forma de saber o que o publico de internet gosta e tem interesse em ouvir. O que é muito diferente do que o publico do radio consome e gosta. Nos meus programas, toda vez que tocava alguma musica mais mainstream, vinham reclamações. Coisa que em FMs pop isso não acontece.


Outros podcasts de música também faziam e fazem assim. Acho que a grande diferença é justamente a curadoria. Cada um tem a sua. A minha é focada em pop, rock, novidades, sucessos e tudo mais que envolva a cultura pop. Alguns especiais estão até hoje no ar justamente sobre trilha sonora de filmes, músicas de bandas conhecidas separadas por países e outros mais.


NP: Você ouve muitos podcasts? E quais os seus favoritos?


MB: Ouço sim! Gosto, obviamente, do Nerdcast. Ouço também o Anticast, todos os do Radiofobia, e alguns gringos como o Bullseye e o Song Exploder.


Entrevista com Maestro Billy


Ouça agora: RADIOFOBIA 55 – com Maestro Billy


NP: Maestro, sobre ABPOP e o ECAD: Como nasceu a ABPOP? Ela é ligada a algum órgão governamental?


MB: A ABPOD nasceu de uma necessidade dos podcasters em terem uma representação perante os órgãos oficiais que regulam a internet, musica e distribuição de conteúdo. Na época tínhamos já vários podcasters interessados nisso, então criamos.


NP: Alguns criadores de Podcast desconhecem a ABPOP porque isso acontece?


MB: Porque atualmente o “movimento está parado”. Não consigo administrar da forma que deveria, com mais interação, mais divulgação e mais ações para o formato e o publico.


NP: Quais os benefícios que um podcast tem sendo um membro? O fato de não ser, muda alguma coisa para esse podcast?


MB: Na época do acordo entre a ABPOD e o ECAD, só os podcasts registrados lá tinham o beneficio de se pagar somente 1 UDA (Unidade de Direito Autoral) para o ECAD e ter a possibilidade de usar musicas de terceiros em seus podcasts. Hoje em dia, isso já está em todo lugar. Ajudamos a mudar a cabeça do ECAD nesse quesito, e eles, muito por nossa culpa, acabaram abrindo a cabeça e percebendo a necessidade de regulação dos formatos musicais na internet.


Hoje em dia não muda absolutamente nada ser ou não associado à ABPOD.


NP: Existe alguma obrigatoriedade para um podcast ser membro da associação?


MB: Não


Entrevista com Maestro Billy


NP: Qual a Maior Realização da ABPOP desdê sua criação?


MB: Justamente a criação do acordo com o ECAD. Isso abriu um precedente legal (no termo da Lei e do interesse) para que todo mundo pudesse regularizar o uso de musica na internet brasileira. Até aquele momento isso não existia. Agora temos um embasamento jurídico e real, onde marcas, pessoas e todo mundo que queira usar musica em suas produções para a internet pode fazê-lo sem nenhuma ilegalidade.


NP: O que mudou no podcast desde 2006 até os dias atuais?


MB: Muita coisa. O formato se adaptou, o publico aumentou, o interesse das pessoas também. Se em 2004/2005 as pessoas achavam que podcast era algo que só poderia ser ouvido em iPods (sim, isso acontecia), hoje em dia ele é parte do cotidiano de muita gente, não só quem trabalha com internet. Mas vejo muita gente de outras áreas consumindo podcasts normalmente.


NP: O ECAD as vezes assombra os Podcasts, existe mesmo algum perigo real de cobrança das obras utilizadas em Podcasts?


MB: No caso do ECAD, caso vc tenha feito o acordo de 1UDA, não tem problema. Existem algumas restrições lá como não ser um site/blog comercial, não ser registrado em nome de empresa, e não ter nenhuma ação de MKtT dentro dos podcasts. Se algum desses quesitos acima existir, o podcast tem que pagar outros valores. Mas eles são transparentes quanto a isso.


NP: Você acredita que o ECAD pode um dia conseguir monitorar e fiscalizar todos os podcast para fazer a cobrança de Direitos Autorais das músicas utilizadas?


MB: Não. Eles não conseguem monitorar todas as rádios do Brasil, por exemplo. E só conseguem monitorar as emissoras de TV porque legalmente existe a necessidade de um departamento especifico dentro das emissoras para cuidar deste assunto. E mesmo assim, muitas emissoras de TV não pagam e não fazem acordo com o ECAD. Vão para a Justiça resolver os problemas. Se 7 emissoras abertas já criam essa confusão para eles, imagine as rádios todas do Brasil (mais de 1500), as emissoras piratas (incontáveis), as rádios Web (incontáveis) e depois os podcasts…


NP: Você sabe em que outros países se produz a mídia podcast? E quais as principais diferenças?


MB: Em todo pais existe podcast. Alguns mais desenvolvidos, outros menos. Muito vem da oralidade do povo, e das facilidades tecnológicas que eles encontram. Os EUA tem podcasts excelentes. A Inglaterra também. E cada um com sua particularidade. Enquanto os EUA tem podcasts independentes, a Inglaterra tem muito podcast feito pelas próprias emissoras de radio. A Alemanha também, muito podcast “oficial” da Deutsche Welle, por exemplo.


Entrevista com Maestro Billy


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NP: Eu notei que os podcasts norte-americanos, embora eu não fale inglês, possuem pouca ou nenhuma edição, porque aqui no Brasil existe esta necessidade da edição?


MB: Você pode não perceber, mas podcast americano tem muita edição sim. É que ela é bem feita. A mesma coisa aqui. Muita edição, muito corte, mas a nossa oralidade faz com que parecemos mais “editados” do que os americanos. Eles são mais monocórdicos do que a gente. Fora que nós temos a mania de falar um em cima do outro. hahahaha. Isso sempre atrapalha, e na hora da edição fica evidente.


NP: A maioria dos criadores de podcast dizem que estão fazendo algo somente por gostar de falar de um assunto e não buscam nem um compromisso mais sério, alguns até mesmo deixam de produzir da noite para o dia sem aviso prévio nem um aos ouvintes, como você avalia esta situação


MB: Acho errado. Comprometimento é tudo. Sua audiência espera isso. O problema é quando sua realidade de ouvintes e interação não chega perto da expectativa que você tinha anteriormente. Por isso que muitos desistem. Também por ser algo que no inicio não dá dinheiro, é muito fácil o podcaster largar o produto para fazer algo mais rentável.


NP: Nós vemos que alguns podcasts mais famosos estão aparecendo em outras mídias como o rádio e a televisão, mas eu penso que está ainda em uma barreira gigante. Você acha que com o tempo a distância entre os podcasts, entre as outras mídias será igual à que existe entre a televisão e o rádio, por exemplo?


MB: Não. Acho que hoje em dia existe uma convergência total entre o digital e as outras mídias. Gente de internet fazendo programa de radio e TV é algo normal. Gente de podcast fazendo vídeo pro YouTube também. O que vejo atualmente é a TV e o rádio aos poucos descendo do patamar e buscando justamente na internet suas referencias e seus apresentadores. O Cid do Não Salvo é um exemplo, a Marina Santa Helena, o pessoal do Porta dos Fundos, e assim por diante. Óbvio que a imagem ainda conta, então o podcaster ainda está em segundo plano nessa busca. Mas aos poucos vai.


NP: O podcast pode ser feito por qualquer um em qualquer lugar, você acha que isso e mais beneficia ou mais prejudica a mídia?


MB: Só beneficia. O que tem que ter é qualidade. Não importa se vc gravou na rua, no estúdio ou em qualquer lugar. Fora que a pertinência do assunto reflete muito isso. É muito mais legal vc ouvir um podcast sobre alimentação feito dentro de uma cozinha do que dentro de um estúdio.


Entrevista com Maestro Billy


NP: Sentimos que a mídia vem enfraquecendo ao longo dos anos, este é um falso sentimento ou realmente a mídia de certa forma perdeu seu encanto?


MB: Falso sentimento. Podcast já é parte da vida das pessoas. Perdeu um pouco o ineditismo do lançamento, mas quando as pessoas entenderam o funcionamento virou algo banal. Muita gente MESMO ouve podcast, até sem saber que tá ouvindo podcast.


Apertar o play num áudio produzido dentro de um site é um exemplo. Não é rádio, não é musica, não é nada. É podcast, em tese.


NP:  Grandes sites aos poucos vêm introduzindo o podcast ao seu conteúdo como o senhor ver este crescimento?


MB: Acho excelente. Quanto mais gente fizer e quanto mais os grandes sites se interessarem, mais gente vai ouvir, mais gente vai criar e mais a mídia vai expandir.


NP:  Alguns programas de rádio, grandes e pequenos adotaram gravar seus programas ao vivo e depois lançar o áudio no site das rádios em MP3 como podcast, podemos realmente o chamar por esse nome, se trabalharmos desta forma?


MB: Sim, o que importa é a entrega. Falava isso lá em 2005 para o pessoal do Pânico. Para eles gravarem as interações do ar e disponibilizarem depois em formato podcast. Mas só agora, ano retrasado, eles começaram a fazer isso.


NP:   O que o senhor prever para o futuro do podcast e da ABPOD?


MB: A ABPOD precisa de alguém para cuidar com carinho. Coisa que atualmente não consigo. Procuro interessados…O podcast é uma ferramenta incrível, uma mídia excelente, e só vai aumentar, tanto em quantidade de produto quanto em ouvintes.


NP: Hoje recebemos Maestro Billy, presidente da ABPOP, DJ e podcaster. Muito obrigado Maestro pelo seu tempo, esperamos que volte mais ao nosso site.

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